terça-feira, 10 de novembro de 2009

Geni e o Zepelin


De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Culto ao sensacionalismo



Não consigo entender como é que com tantos problemas relevantes a serem aprofundados, com tantas injustiças maiores para serem noticiadas – se é que há injustiça no caso –, a imprensa abre o espaço que abriu, em todos os canais e em todos os horários, para uma ocorrência tão pouco relevante, como foi a expulsão da aluna da Uniban.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Braço Desarmado


O que fazer com um ser livre que tem um vício que provoca imenso desconforto ou até mesmo risco, aos que o cercam? O que fazer se ele não aceita tratamento, nem o estado dispõe do aparato prescrito admitido para o caso? O que fazer se o legislador vive em um "faz de conta", habitando um mundo diverso do real, em um pais que não é o Brasil, e que cria uma legislação muito bonita, mas absolutamente inexequível e inaplicável? Sigo esta linha de raciocínio, caminhando através de indagações, para retornar a primeira pergunta, reformulando-a de uma forma mais objetiva: O que fazer com um drogado perigoso, que não aceita tratamento?

sábado, 24 de outubro de 2009

Espelho

Esta semana tive contato com um cliente e amigo que me relatava um infortúnio que passou. Como jovem e próspero comerciante, tinha – e ainda tem – um futuro promissor. Mas o ano passou, quando estava no seu estabelecimento comercial, foi vítima de um assalto e acabou sendo baleado com dois tiros. Uma bala causou poucos danos, mas a outra provocou sérias lesões no seu fígado, destruindo 80% do órgão.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Injusta Faceta


Não concordo muito com a cobrança excessiva que os veículos de comunicação fazem de uma polícia educada e cheia de boas maneiras para a abordagem de delinquentes. Outro dia passou uma reportagem - várias vezes e em todos os telejornais - de um flagra que alguns estudantes gravaram de uma ação da polícia.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Paredão


Parede do Açude Umari, em Upanema (RN) 

Paredão para mim é esse aí.  O resto é brinquedo que faz zoada e incomoda, de adolescente besta, que gosta de aparecer.


Hoje em qualquer cidade
Não há local de sossego
Na periferia ou centro
Não existe aconchego
A partir da invenção
Desse tal de paredão
Só quem dorme é morcego


É uma grande besteira
Procurar a autoridade
Hoje é um só delegado
Pra seis ou sete cidades
Com o carro indisponível
Por falta de combustível
Fica sem mobilidade


Certo dia, uma turma
Curtindo a sua noitada
Com um som amplificado
Em uma hora avançada
Certamente se lixando
Por se encontrar profanando
Uma norma que é sagrada


Um marchante diplomado
Pela escola da vida
Sendo aluno laureado
Sem matéria repetida
Vai pedir para baixar
Aquele som "de lascar"
Que incomoda a avenida


Precisando descansar
De uma labuta pesada
Querendo se recolher
Na sua hora marcada
Se depara com a conduta
Daqueles “felasdasputa”
Que deixa a rua acordada


Tinha uma moça magrela
Das pernas "fina" e zambeta
Parecia que sambava
Pilotando uma lambreta
Seu corpo foi inspirado
Num desenho inacabado
De um chassi de borboleta


Um macho da bunda grande
Dançava a quebradeira
Rebolando até o chão
Balançando as cadeiras
Vez por outra toca um funck
O nego dá um arranque
Feito um fusca na ladeira


O trabalhador cansado
Doido pra curtir seu sono
Se dirige ao quartudo
Que do paredão é dono
Antes, mesmo, de falar
Ouve: - Nem venha chorar
Meu sonzão eu não raciono


Paciência tem limite
E momento de acabar
De tanto pedir a eles
A fineza de baixar
Pensa: - Só podem ser loucos
Ou então devem ser moucos
Pra conseguir suportar


Depois de se rebaixar
Mesmo com toda razão
Se vê desmoralizado
O humilde cidadão
Decide fazer besteira
Puxando a faca peixeira
E empunhando o facão


Diz: - Mulher traga a bacia
Grande, de "aparar fato"
E a vara de virar tripas
Deixe que eu mesmo trato
O da bunda empinada
Vai virar uma buchada
É o primeiro que eu mato


O sujeito quando viu
O brilho da "lambedeira"
Suspendeu o rebolado
Disparou numa carreira
Quase que “arreia o barro”
Antes de saltar no carro
E engatar a primeira


Nem se lembrou que o reboque
Tava em mau posição
Com energia ligada
Através da extensão
Quando o carro disparou
O fio se esticou
Partindo a fiação


Foi fogo pra todo lado
Antes do som se calar
Na posição que estava
Não foi possível aprumar
O reboque capotou
O sonzão se espatifou
E a paz voltou a reinar


O restante da história
Nem precisa dar guarida
A “mundiça” se encantou
Ohh povo bom de corrida
Só a zambeta magrela
Que ninguém, depois, viu ela
Permanecendo sumida


Encontraram a menina
No terceiro amanhecer
Pense numa cena linda
Que só vendo, para crer
Aquele resto de feira
Trepada numa craibeira
Sem conseguir mais descer


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)


A história toda é uma ficção, porém alguns termos são influenciados pela "lenda rural" narrada por Everaldo Cabeção e registrada por Jesus de Miúdo, em seu blog: http://acaridomeuamor.nafoto.net/photo20090724213939.html


Dedico ao acariense Everaldo esta postagem e me solidarizo com ele, pela perda do seu pai, Joaquim de Cristóvão, ocorrida esta semana.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sabedoria do Sertanejo


Buscando conhecimento
Perguntei ao sertanejo
Observador constante
Não vive só de lampejos
- Onde está a fortaleza
Das forças da natureza?
Ele disse: - No Desejo


- Para conter uma moça
Nem a muralha da china
- Nada inibe o alpinista
Nem a mais alta colina
- A própria água do rio
Vence qualquer desafio
Até o mar, sua sina


Vendo que ele filosofa
Quis ouvir seu coração
Perguntando ao sujeito
A sua percepção
Procurei ser mais profundo:
- Que você acha do mundo
E da civilização ?


- O mundo é um presente
Perfeito que Deus nos deu
- O homem o mais perverso
Vivente que já nasceu
- Essa tal humanidade
Com Seu Filho foi covarde
Mas por ela, Ele morreu


Confesso, dei um suspiro
Diante da sapiência
Resolvi explorar mais
A profunda inteligência
Indagando ao cidadão
Sua maior ambição
Que fascina a existência?


- Depende da referência
E individualidade
- O sonho para alguns
Não é unanimidade
- Uma chuva no sertão
E um prato de feijão
Bastam a minha vaidade


E eu achando que um carro
Ou um bonito aposento
Pra quem mora num casebre
E viaja num jumento
Era o sonho de consumo
Mas sua ambição, presumo
Só Deus dá o provimento


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

sábado, 3 de outubro de 2009

Vida Alheia


Por falta de criatividade, não consegui selecionar nenhuma foto para ilustrar a "Vida Alheia", então resolvi colocar o jumento Felipão.

Você deve está pensando: - O que é que um jumento tem a ver com a vida alheia??? Rigorosamente nada, a não ser por se tratar de um personagem da vida interiorana. Mas, o que é que as pessoas tem a ver com a vida dos outros??? Também, nada. Beleza!!! Então Felipão e a "Vida Alheia" já tem algo em comum. Segundo ponto comum: É aconselhável não se meter com nenhum dos dois. Mas... ...se é de você se meter com Felipão, prefira a vida alheia.

No pacato interior
A vida mansa norteia
Dia-a-dia sem estresse
O sossego encandeia
Mas o lazer principal
Presente em qualquer local
É falar da vida alheia

Não importa quem falseia
Nem se saga é verdadeira
Precisa ser criativa
E sendo a versão primeira
Chamará a atenção
Provocando sensação
O mote sobe ladeira

Se a mulher é chifreira
Quem paga é o marido
Enfeitado, rotulado
Cabisbaixo e sofrido
O chifre ainda tá morno
De qualquer forma é corno
Brabo, manso ou ferido

Maxixe é seu apelido
Por ser, a moça, festeira
Incomodaria menos
Sua orelha na fogueira
Dizem que nasceu vadia
E o seu fogo já ardia
Queimando as mãos da parteira

Uma língua fuxiqueira
Faz um estrago danado
Quando faz o julgamento
De um garoto delicado
Não tendo nenhuma dó:
- Criado pela avó
- Só podia ser viado

Contando a quem tá do lado
Solta logo uma bravata
Diz: - Aquela moça velha
- Figurinha caricata
- É chata por ser solteira ?
- Ou, por só falar besteira
- É solteira por ser chata?

Até o amigo destrata
Quem gosta da falação
Se o sujeito compra um carro
Começa a especulação
Diz que está enricando
Que leva a vida roubando
Seu lugar é na prisão

Quando há repreensão
Ao pensamento fecundo
Não aceita o conselho
Se defende em um segundo
Dentro da cabeça dele
Todo o mundo é contra ele
E ele é só, contra o mundo

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Salmo 104


Foto: Canindé Soares

Confesso que, apesar de católico temente a Deus, não sou tão praticamente quanto deveria ser. Também não costumo me debruçar sobre o livro dos livros com a frequência que deveria. É muito comum nos lembrarmos da existência da bíblia sagrada apenas nos momentos de angústia ou de dificuldades. Dificilmente a folheamos sem uma motivação forte, seja para alimentar nossa alma ou simplesmente como forma de reforçar nossa fé. Assim como só costumamos nos dirigir a Deus para pedir. Não é muito comum nos dirigirmos ao Pai para agradecer as coisas simples que Ele nos dá todos os dias, sem que peçamos.

Ontem (21/07), quando da abertura de uma reunião de trabalho, sabendo, um colega, que a pauta era pesada, pediu licença aos presentes e leu o Salmo 104 da bíblia sagrada, que achei belíssimo. Para mim, o que seria uma reunião tensa, foi uma reunião amena, assim como ameno foi todo o meu dia de ontem. Gostaria de compartilhar com os que costumam frequentar este espaço, estas poéticas e sábias palavras:

Salmo 104

..tu que te cobres de luz como de um manto, que estendes os céus como uma cortina. És tu que pões nas águas os vigamentos da tua morada, que fazes das nuvens o teu carro, que andas sobre as asas do vento; que fazes dos ventos teus mensageiros, dum fogo abrasador os teus ministros. Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não fosse abalada em tempo algum. Tu a cobriste do abismo, como dum vestido; as águas estavam sobre as montanhas. À tua repreensão fugiram; à voz do teu trovão puseram-se em fuga. Elevaram-se as montanhas, desceram os vales, até o lugar que lhes determinaste. Limite lhes traçaste, que não haviam de ultrapassar, para que não tornassem a cobrir a terra. És tu que nos vales fazes rebentar nascentes, que correm entre as colinas. Dão de beber a todos os animais do campo; ali os asnos monteses matam a sua sede. Junto delas habitam as aves dos céus; dentre a ramagem fazem ouvir o seu canto. Da tua alta morada regas os montes; a terra se farta do fruto das tuas obras. Fazes crescer erva para os animais, e a verdura para uso do homem, de sorte que da terra tire o alimento, o vinho que alegra o seu coração, o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que lhe fortalece o coração. Saciam-se as árvores do Senhor, os cedros do Líbano que ele plantou, nos quais as aves se aninham, e a cegonha, cuja casa está nos ciprestes. Os altos montes são um refúgio para as cabras montesas, e as rochas para os querogrilos. Designou a lua para marcar as estações; o sol sabe a hora do seu ocaso. Fazes as trevas, e vem a noite, na qual saem todos os animais da selva. Os leões novos os animais bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento. Quando nasce o sol, logo se recolhem e se deitam nos seus covis. Então sai o homem para a sua lida e para o seu trabalho, até a tarde. Ó Senhor, quão multiformes são as tuas obras! Todas elas as fizeste com sabedoria; a terra está cheia das tuas riquezas. Eis também o vasto e espaçoso mar, no qual se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes. Ali andam os navios, e o leviatã que formaste para nele folgar. Todos esperam de ti que lhes dês o sustento a seu tempo. Tu lho dás, e eles o recolhem; abres a tua mão, e eles se fartam de bens. Escondes o teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem, e voltam para o seu pó. Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra. Permaneça para sempre a glória do Senhor; regozije-se o Senhor nas suas obras; ele olha para a terra, e ela treme; ele toca nas montanhas, e elas fumegam...

Amém!!!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Droga


Foto: Junior Santos

Esses dias, conversando com um amigo, delegado da Polícia Civil, ouvi um depoimento que me deixou preocupado. Ele relatava, em tom de desabafo, as dificuldades de combater as drogas, falando que cada vez mais o aparato policial é amordaçado e o tráfico de entorpecentes se prolifera de forma cruel e descontrolada

terça-feira, 2 de junho de 2009

Conduta Vedada



O poema abaixo é apenas uma ficção: um script de um filme de terror que passa na mente de todo pai de família, quando chega a sua hora de ir ao proctologista. Minha hora ainda não chegou.

Por mais que a situação seja constrangedora, não há justificativas para não fazer o exame. O câncer de próstata mata muito mais que se imagina e os seus principais aliados são o preconceito e a desinformação.

Curável quando detectada no início, essa doença atinge 8% dos homens com mais de 50 anos (algumas pesquisas indicam até 17%), que, caso não receba tratamento adequado e tempestivo, pode se espalhar para outras partes do corpo (metástases), tornando-se incurável.

Conduta Vedada

Em certa fase da vida
O respeito é um bem sagrado
Não pode ser profanado
De uma forma descabida
É hora de ser banida
Essa conduta vedada
Ter a honra profanada
Machuca o pai de família
Com tanta gente em Brasília
Merecendo essa dedada

Já bem na hora marcada
E eu aqui na espera
Para enfrentar a fera
Tal qual uma alma penada
Com a mente abalada
E com contrariedade:
É uma grande atrocidade
Me botar nesse papel
Com um requinte cruel
Pra um sujeito, nessa idade

É infinita maldade
Esse corredor da morte
Que meu coração suporte
Essa desumanidade
Mas se na realidade
Isso for para o meu bem
Preconceito não convém
Para que a sorte não mude
Fico com minha saúde
Prefiro dizer amém

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: Com relação ao poema "Acauã", gostaria de esclarecer que, quando digo "...sentenciada e presa..." não me refiro à gaiola ou cativeiro. Na realidade se trata de sentido figurado do aprisionamento na fama de agourenta. Não tenho conhecimento da criação doméstica da ave, nem foi esse o sentido das minhas palavras.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ensaio Sobre a Loucura


Esse ministro deve ser louco


Já esse deve ser são

Onde mora a loucura? Parece ser uma indagação que merece uma resposta simples e óbvia, mas andei procurando respondê-la e não consegui sequer uma aproximação. No ceticismo consciente ou na indignação juvenil? Na aceitação da legalidade amoral ou na recusa à licitude injusta? Na tolerância conivente com o repugnável ou na repulsa veemente diante das posturas não éticas? Na indiferença pragmática ou na entrega a uma causa "impossível"? No padrão promíscuo ou simplesmente na fuga do padrão?

A definição convencional da loucura me parece mais um rótulo, uma pecha colocada naquele que ousa fazer algo que falta coragem aos "são", um fardo a mais para ser carregado por quem já se encontra com um peso demasiado nas costas, próprio das causas nobres. É mais fácil taxá-lo de louco, que fazer o que foi ousado por ele. Ocupar aquela trincheira fétida? De jeito nenhum. Andar descalço, num caminho sinuoso de espinhos? Nem pensar. Então, já que falta coragem aos "são", até mesmo para um apoio moral, é mais fácil ironizar e ridicularizar, encobrindo, assim, as suas frustrações e os seus temores. Vale tudo para esconder que a sua própria luz é opaca. Até mesmo, apagar o brilho das estrelas e das constelações.

Os "sãos" são "sabidos", "vivos", "espertos", podendo ter ou não escrúpulos. Os "loucos" são "bestas", "sonhadores", "otários", que são capazes de passar por cima de tudo, menos dos seus princípios e dos seus ideais. Os "sãos" podem até sonhar com um mundo melhor, mas jamais serão capazes de mover uma única palha para isso. Só os "loucos" buscam a realização dos sonhos ditos impossíveis, mesmo que para isso custe a humilhação e a indiferença, obstáculos mais difíceis, dentre os muitos que terá de transpor.

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

terça-feira, 19 de maio de 2009

O Papudinho







Papudinho é um sujeito
Que vive para a cachaça
Sua sede nunca passa
Esse é o seu defeito
Bebe por ser liquefeito
Sólido, comê-lo-ia
Sua sede irradia
Só não entorna dormindo
Se não estava ingerindo
É porque de febre ardia

Não existe simpatia
Nem conheço reza forte
Não há nada que conforte
Só uma cerveja fria
Se tem outra companhia
Estando em consciência
Nada tem eficiência
Pra curar a sede eterna
Só enchendo uma cisterna
E afogando a dependência

Se tá na abstinência
Quando a ressaca tá feia
Com pouco álcool na veia
Começa a turbulência
Situação de carência
Tremendo mais que toyota
Pede logo uma meiota
E toma quase dum gole
Bebendo de ficar mole
No meio fio, capota

Sua quartinha não lota
Parece esgoto geral
Chupa um imbu com sal
E logo uma ideia brota
Se encharcado, arrota
Ficando pronto pra guerra
No boteco se emperra
Com o copo não enrola
Saindo de padiola
Na hora que a farra encerra

Não tem muro, não tem serra
Pra impedir o rapaz
Na sua sede voraz
O caminho nunca erra
Parece que a cana berra
E logo o pingunça escuta
Com certeza absoluta
Advinha farra a légua
Esse filho de uma égua
Tem premonição astuta

Capaz de tomar cicuta
E nem sequer ficar tonto
Bebe até ficar pronto
Tudo que seu vício incuta
Essa é sua conduta
Um gole não satisfaz
Só a cana lhe dá paz
Emborca de copo cheio
O alcool é um devaneio
Que em sua mente jaz

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)



sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ônus Profano



Como em um breve aceno
O verde logo amarela
Se despedindo, sem trela
Folhas caem no terreno
Parece tomar veneno
A vida se dilacera
Quando a aridez supera
Transformando em deserto
Mesmo estando liberto
A seca nos encarcera

Esse tempo que impera
Na maior parte do ano
Aleija de qualquer plano
O fraco se desespera
O vento que vocifera
Carregando a umidade
Também leva pra cidade
Quem não suporta o sufoco
Entre espinhos e tocos
É dura a realidade

Indescritível maldade
Se faz com o trabalhador
Mutilado do labor
Perde a dignidade
Vivendo de caridade
Da esmola oficial
O Governo Federal
Em vez de a vara lhe dar
Ensinando a pescar
Já dá o peixe com sal

Dar-lhe bolsas é um mal
A esmola desapruma
O sujeito se acostuma
Com um vício amoral
Esse é o seu final
Passa a estorvo humano
Um problema suburbano
Quem plantou e produziu
Alimentou o Brasil
E hoje é um ônus profano

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: Peço desculpas aos frequentadores deste espaço para colocar o quadro "Retirantes", de Portinari, com um poema meio fora de propósito, em um ano que promete ser de fartura. Mas
é que acho esse momento oportuno para uma reflexão sobre o que está por vir e o que foi feito para mudar o futuro. Será que o Nordeste vai ser perpetuamente condenado a "ônus profano"
do Brasil e a única coisa a ser feita é a distribuição de bolsas?

domingo, 29 de março de 2009

Nasceu para Cangalha





Tem gente que é desprovida

Da mais tênue sapiência

Sem nenhuma inteligência

Para ser desenvolvida

A mente é combalida

Seu juízo tem cancela,

Cadeado e taramela

Seu raciocínio falha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela




Aquele que discrimina

Alguém pela sua cor

Que julga não ter valor

Pela origem nordestina

É o mesmo que abomina

Quem carrega uma sequela

Ou do idoso não zela

Reservando a migalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela



O eleitor que se vende

Renuncia o poder

Do direito de eleger

Seu papel não compreende

Por isso não surpreende

Quando ele a urna mela

Vota em galã de novela

Ou outro que não trabalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela




Mesmo que a atitude

Tenha efeito bumerangue

A tolice tá no sangue

E não permite que mude

Por mais que o sujeito estude

A sandice não debela

E o caráter se revela

Nas asneiras que espalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: O raciocínio da poesia só é válido para asininos humanos. A foto (domingo 29/03) mostra uma dupla de jumentos que largaram a cangalha, passaram pela sela e hoje estão curtindo a belíssima praia de Ponta do Mel.



sexta-feira, 27 de março de 2009

O Pneu





O homem inventou a roda

Revolucionou o mundo

Encurtando as distâncias

Percorrendo em um segundo

Onde antes só se ia

Com o pensamento fecundo

Arredondou uma pedra

Fazendo a roda primeira

Depois um outro artesão

Esculpiu-a na madeira

Mais tarde a roda de ferro

Subiu e desceu ladeira

Para ajudar no progresso

A roda foi libertada

Saiu do trilho de ferro

Para encarar a estrada

Que era feita de barro

Sinuosa e esburacada

Era tanto solavanco

Com o carro, quase parado

Foi então que se encheu

Um cilindro anelado

Comprimindo-se o ar

O pneu estava inventado

Essa grande descoberta

Permitiu a evolução

Melhorando a freada

Otimizando a tração

Reduzindo os impactos

Amortecendo o chão

Hoje olho um avião

Que sem pneu não decola

Os veículos de estrada

Que tem uma outra bitola

Ou os carros de corrida

Que quase do chão descola

Olhando a nossa volta

Se percebe a importância

O papel essencial

E a grande relevância

Que o pneu representa

Para qualquer circunstância

Mas é triste perceber

A vã genialidade

Que desenvolveu a roda

Demonstrando habilidade

Não faz esforço nenhum

Para limpar a cidade

Abandona no monturo

Ou no terreno baldio

Esse objeto nobre

É desprezado no rio

Não restando o que fazer

Com quem tanto nos serviu

Deu apoio a polícia

Equipando o camburão

Tá no carro do bombeiro

Que o leva à missão

Transporta o retirante

No regresso ao sertão

O pneu que salvou vidas

Rodando na ambulância

E o que levou riquezas

Transportando a pujança

É refúgio de mosquito

Graças a ignorância

Quem teve inteligência

Com o seu dom de criar

Demonstra nenhum empenho

Para poder reciclar

Abandonando ao léu

Na hora de descartar

Depois de tanto servir

Merecia melhor sorte

Quem aproximou pessoas

Rodando do sul ao norte

Hoje só serve a dengue

Sendo berçário da morte

É o homem no espelho

É o espelho do descaso

O descaso com o futuro

É o futuro ao acaso

O acaso guiando o mundo

O mundo no fim do prazo



domingo, 22 de março de 2009

Aborto





Totalmente indefeso

No ventre da inimiga

O corpo que o abriga

Por ele só tem desprezo

Deveria estar ileso

No seu desenvolvimento

Recebendo o provimento

Dentro de uma fortaleza

Com infinita nobreza

E total desprendimento

Tendo outras opções

Pra evitar gravidez

Se pratica a insensatez

Na maior das agressões

Um covil de leões

É o corpo infanticida

Que põe fim a uma vida

Em vez de a defender

Soube muito bem fazer

Arranje outra saída

Sem a proteção materna

Não lhe resta alternativa

Solução definitiva

Dentro da visão moderna

Um crime que não consterna

Quem devia só cuidar

Se dispõe a praticar

O aborto ilegal

Exacerbação do mal

E covardia sem par

Não há justificativas

Para uma barbárie dessas

Atitude que confessa

Nossa força destrutiva

Em uma ação furtiva

Que o feto predestina

A ligação vitalina

Pois o ser que é vitimado

Além de estar desarmado

Não vive sem a assassina



(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)



PS: Gostaria de enfatizar que sou absolutamente a favor do aborto legal. Nos casos previstos em lei, quando a vida da mãe está em risco, a prioridade deve ser preservar a vida da mãe. Não defendo, nem sou favorável a posição do bispo pernambucano que excomungou os responsáveis pelo aborto na menina de 9 anos, mas tenho receio que aquela infeliz declaração do religioso possa ser usada a favor da banalização da prática. A igreja está correta em tentar preservar a vida, mas o bispo, na minha humilde visão, totalmente errado em opinar sobre a inexistência de risco de vida naquela gestação. Assim como Lula não está gabaritado para opinar sobre religião, ele também não tem embasamento para opinar sobre medicina.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Senado Federal


Um diretor de garagem
E um de aeroporto
Ao dispor, todo conforto
E vida de malandragem
É uma grande sacanagem
Um Estado arruinado
Acoitando viciado,
Parasita e ladrão
Que escolhe por profissão
Um emprego no Senado

Escutar de Zé Sarney:
- Tudo vai ser resolvido
Quem errou vai ser punido
Com todo rigor da lei
Na apuração que farei
Diretor desocupado
É pra ser exonerado

Mas a gratificação
Esses pilantras terão
Ao salário incorporado

Logo, logo, a imprensa
Abandona a cobertura
E a mesma estrutura
Vai voltar a ser imensa
Além dessa recompensa
Pr´esse bando de grileiro
Feita com nosso dinheiro
A quem foi exonerado
Cargos novos são criados
Mais lama para o chiqueiro

sexta-feira, 13 de março de 2009

O Morto Dentro "das Calça"


O morto dentro "das calça"
Não trabalha nem estuda
Tem uma preguiça aguda
Com o suor não realça
É uma pessoa falsa
Só tem três ocupações
Dorme, faz as refeições
E fala da vida alheia
Nas esquinas se apeia
Pra proferir maldições

Não viaja, nem trabalha
Não arrisca, nem petisca
Não sei como o olho pisca
Não chora e nem gargalha
Não acerta e não falha
De tudo é dependente
Não faz nada, no presente
Mais parece um morto vivo
Distúrbio conceptivo
A planta que nasceu gente

Uma entidade inerte
Num corpo de ser humano
Com saúde, mas sem plano
Sem lei áurea que liberte
Não tem nada que desperte
Quem de si fez um aborto
Se tornando um peso morto
Nas costas do genitor
Fez um canguru, do avô
Não quer sair do conforto

Aposentado na infância
Sem nunca ter trabalhado
Sempre sendo agasalhado
Dos pais, nunca quis distância
Tem na vida uma ganância:
Receber tudo na mão
Sem ter que ganhar o pão
O sossego é o seu mundo:
Vá trabalhar, vagabundo!
Criatura sem ação

Quem não arrisca na vida
Nunca vai se machucar
Nem vai aprender a andar
Se a vontade é contida
Existência adormecida
Sem sofrer um arranhão
Sem nenhuma emoção
Um inerte vegetal
Esse pobre animal
Desertou da criação

Podia ter produzido
Podia mudar o mundo
Um ser humano fecundo
Bem que podia ter sido
Mas não tendo ainda morrido
Pode iniciar agora
Começando, sem demora
Nova vida de labuta
Com nobreza revoluta:
Um trabalhador aflora

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)