domingo, 29 de março de 2009

Nasceu para Cangalha





Tem gente que é desprovida

Da mais tênue sapiência

Sem nenhuma inteligência

Para ser desenvolvida

A mente é combalida

Seu juízo tem cancela,

Cadeado e taramela

Seu raciocínio falha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela




Aquele que discrimina

Alguém pela sua cor

Que julga não ter valor

Pela origem nordestina

É o mesmo que abomina

Quem carrega uma sequela

Ou do idoso não zela

Reservando a migalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela



O eleitor que se vende

Renuncia o poder

Do direito de eleger

Seu papel não compreende

Por isso não surpreende

Quando ele a urna mela

Vota em galã de novela

Ou outro que não trabalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela




Mesmo que a atitude

Tenha efeito bumerangue

A tolice tá no sangue

E não permite que mude

Por mais que o sujeito estude

A sandice não debela

E o caráter se revela

Nas asneiras que espalha

Quem nasceu para cangalha

Nunca vai chegar a sela


(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)

PS: O raciocínio da poesia só é válido para asininos humanos. A foto (domingo 29/03) mostra uma dupla de jumentos que largaram a cangalha, passaram pela sela e hoje estão curtindo a belíssima praia de Ponta do Mel.



sexta-feira, 27 de março de 2009

O Pneu





O homem inventou a roda

Revolucionou o mundo

Encurtando as distâncias

Percorrendo em um segundo

Onde antes só se ia

Com o pensamento fecundo

Arredondou uma pedra

Fazendo a roda primeira

Depois um outro artesão

Esculpiu-a na madeira

Mais tarde a roda de ferro

Subiu e desceu ladeira

Para ajudar no progresso

A roda foi libertada

Saiu do trilho de ferro

Para encarar a estrada

Que era feita de barro

Sinuosa e esburacada

Era tanto solavanco

Com o carro, quase parado

Foi então que se encheu

Um cilindro anelado

Comprimindo-se o ar

O pneu estava inventado

Essa grande descoberta

Permitiu a evolução

Melhorando a freada

Otimizando a tração

Reduzindo os impactos

Amortecendo o chão

Hoje olho um avião

Que sem pneu não decola

Os veículos de estrada

Que tem uma outra bitola

Ou os carros de corrida

Que quase do chão descola

Olhando a nossa volta

Se percebe a importância

O papel essencial

E a grande relevância

Que o pneu representa

Para qualquer circunstância

Mas é triste perceber

A vã genialidade

Que desenvolveu a roda

Demonstrando habilidade

Não faz esforço nenhum

Para limpar a cidade

Abandona no monturo

Ou no terreno baldio

Esse objeto nobre

É desprezado no rio

Não restando o que fazer

Com quem tanto nos serviu

Deu apoio a polícia

Equipando o camburão

Tá no carro do bombeiro

Que o leva à missão

Transporta o retirante

No regresso ao sertão

O pneu que salvou vidas

Rodando na ambulância

E o que levou riquezas

Transportando a pujança

É refúgio de mosquito

Graças a ignorância

Quem teve inteligência

Com o seu dom de criar

Demonstra nenhum empenho

Para poder reciclar

Abandonando ao léu

Na hora de descartar

Depois de tanto servir

Merecia melhor sorte

Quem aproximou pessoas

Rodando do sul ao norte

Hoje só serve a dengue

Sendo berçário da morte

É o homem no espelho

É o espelho do descaso

O descaso com o futuro

É o futuro ao acaso

O acaso guiando o mundo

O mundo no fim do prazo



domingo, 22 de março de 2009

Aborto





Totalmente indefeso

No ventre da inimiga

O corpo que o abriga

Por ele só tem desprezo

Deveria estar ileso

No seu desenvolvimento

Recebendo o provimento

Dentro de uma fortaleza

Com infinita nobreza

E total desprendimento

Tendo outras opções

Pra evitar gravidez

Se pratica a insensatez

Na maior das agressões

Um covil de leões

É o corpo infanticida

Que põe fim a uma vida

Em vez de a defender

Soube muito bem fazer

Arranje outra saída

Sem a proteção materna

Não lhe resta alternativa

Solução definitiva

Dentro da visão moderna

Um crime que não consterna

Quem devia só cuidar

Se dispõe a praticar

O aborto ilegal

Exacerbação do mal

E covardia sem par

Não há justificativas

Para uma barbárie dessas

Atitude que confessa

Nossa força destrutiva

Em uma ação furtiva

Que o feto predestina

A ligação vitalina

Pois o ser que é vitimado

Além de estar desarmado

Não vive sem a assassina



(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)



PS: Gostaria de enfatizar que sou absolutamente a favor do aborto legal. Nos casos previstos em lei, quando a vida da mãe está em risco, a prioridade deve ser preservar a vida da mãe. Não defendo, nem sou favorável a posição do bispo pernambucano que excomungou os responsáveis pelo aborto na menina de 9 anos, mas tenho receio que aquela infeliz declaração do religioso possa ser usada a favor da banalização da prática. A igreja está correta em tentar preservar a vida, mas o bispo, na minha humilde visão, totalmente errado em opinar sobre a inexistência de risco de vida naquela gestação. Assim como Lula não está gabaritado para opinar sobre religião, ele também não tem embasamento para opinar sobre medicina.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Senado Federal


Um diretor de garagem
E um de aeroporto
Ao dispor, todo conforto
E vida de malandragem
É uma grande sacanagem
Um Estado arruinado
Acoitando viciado,
Parasita e ladrão
Que escolhe por profissão
Um emprego no Senado

Escutar de Zé Sarney:
- Tudo vai ser resolvido
Quem errou vai ser punido
Com todo rigor da lei
Na apuração que farei
Diretor desocupado
É pra ser exonerado

Mas a gratificação
Esses pilantras terão
Ao salário incorporado

Logo, logo, a imprensa
Abandona a cobertura
E a mesma estrutura
Vai voltar a ser imensa
Além dessa recompensa
Pr´esse bando de grileiro
Feita com nosso dinheiro
A quem foi exonerado
Cargos novos são criados
Mais lama para o chiqueiro

sexta-feira, 13 de março de 2009

O Morto Dentro "das Calça"


O morto dentro "das calça"
Não trabalha nem estuda
Tem uma preguiça aguda
Com o suor não realça
É uma pessoa falsa
Só tem três ocupações
Dorme, faz as refeições
E fala da vida alheia
Nas esquinas se apeia
Pra proferir maldições

Não viaja, nem trabalha
Não arrisca, nem petisca
Não sei como o olho pisca
Não chora e nem gargalha
Não acerta e não falha
De tudo é dependente
Não faz nada, no presente
Mais parece um morto vivo
Distúrbio conceptivo
A planta que nasceu gente

Uma entidade inerte
Num corpo de ser humano
Com saúde, mas sem plano
Sem lei áurea que liberte
Não tem nada que desperte
Quem de si fez um aborto
Se tornando um peso morto
Nas costas do genitor
Fez um canguru, do avô
Não quer sair do conforto

Aposentado na infância
Sem nunca ter trabalhado
Sempre sendo agasalhado
Dos pais, nunca quis distância
Tem na vida uma ganância:
Receber tudo na mão
Sem ter que ganhar o pão
O sossego é o seu mundo:
Vá trabalhar, vagabundo!
Criatura sem ação

Quem não arrisca na vida
Nunca vai se machucar
Nem vai aprender a andar
Se a vontade é contida
Existência adormecida
Sem sofrer um arranhão
Sem nenhuma emoção
Um inerte vegetal
Esse pobre animal
Desertou da criação

Podia ter produzido
Podia mudar o mundo
Um ser humano fecundo
Bem que podia ter sido
Mas não tendo ainda morrido
Pode iniciar agora
Começando, sem demora
Nova vida de labuta
Com nobreza revoluta:
Um trabalhador aflora

(Pedro Augusto Fernandes de Medeiros)